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Diminuição do impacto ambiental, mais opções de crédito privado, maior representatividade na política e preocupação com performance em todos os processos são algumas das tendências que devem marcar o futuro da indústria de rochas ornamentais.

Esses e outros temas emergiram em um evento realizado na manhã da última sexta-feira (10), em Cachoeiro de Itapemirim (ES), pela startup Clarke Energia. Ao todo, cerca de 60 participantes compareceram ao encontro que reuniu empresários, especialistas e representantes do ramo.

Durante sua fala de abertura, Pedro Rio, CEO da Clarke, ressaltou como é o próprio setor que dirá como será este futuro, e que seu papel como anfitrião foi observar a indústria como um todo para ver o que se repete e faz sucesso em diversos segmentos.

“Quando a gente olha para o futuro do que a gente está vendo de melhor na indústria brasileira, a gente vê alguns padrões. Tanto a indústria profissional, aquela que nasceu com grandes investidores e tudo isso por trás, quanto aquela que nasceu familiar e se tornou uma gigante”, afirmou Rio.

Pedro Rio, CEO da Clarke

Pedro Rio, CEO da Clarke (Foto: Thiers Turini)

O CEO listou padrões que ele observa, sendo eles a entrega de valor para a sociedade e as pessoas, a orientação para o controle de custos marginais, a busca de performance em todas as etapas, a boa formação de lideranças, a redução do impacto ambiental, a conexão com fatores externos além do mercado em si, a implementação de uma cultura de testes e a conexão com soluções tecnológicas.

Especialmente em relação aos custos e ao impacto ambiental, Rio destacou como a eletricidade desempenha um importante papel, e como a migração para o Mercado Livre de Energia pode ser uma alternativa para lidar com essas duas questões, justamente por este modelo ser mais limpo e mais econômico.

Tiago Pessotti, sócio fundador da Apex Partners e APX Invest, deu sequência à programação apresentando uma visão sobre o cenário atual do ramo, que ele reconhece ser bastante positivo, e sobre possíveis pontos de atenção no futuro.

“O momento em que o setor perdeu mercado externo foi o período de 2016, 2017 e 2018, quando as vendas caíram, ligado ao momento que os Estados Unidos viviam de aperto das condições financeiras, de tirar liquidez do mercado como acontece hoje”, alertou Pessotti.

Scandar Nemer, sócio fundador do Grupo Rhino, que participou com Pessotti do painel sobre investimentos, analisou que, pelo segmento de rochas demandar aportes financeiros grandes e recorrentes, ele pode se beneficiar de uma maior diversidade de acesso a recursos privados para investimento.

Entre esses métodos, ele citou o open banking, plataformas de financiamento de cadeias, de antecipação de recebíveis e de antecipação de invoice. “Hoje essas plataformas têm muita mobilidade, são muito acessíveis e vêm dando um suporte muito importante ao setor”, afirma Nemer.

Da esquerda para a direita: Pedro Rio, CEO da Clarke; Tiago Pessotti, sócio fundador da Apex Partners e APX Invest; e Scandar Nemer, sócio fundador do Grupo Rhino

Da esquerda para a direita: Pedro Rio, CEO da Clarke; Tiago Pessotti, sócio fundador da Apex Partners e APX Invest; e Scandar Nemer, sócio fundador do Grupo Rhino (Foto: Thiers Turini)

O painel seguinte debateu políticas públicas para a indústria de rochas e trouxe diversas visões sobre como é possível que governos estimulem o crescimento do ramo, de forma a gerar empregos, renda e desenvolvimento.

O deputado federal Felipe Rigoni (União-ES) abriu os debates elencando diversos pilares para alavancar o setor, entre eles o investimento em infraestrutura, o estímulo ao desenvolvimento científico voltado para a indústria e a melhor formação de capital humano.

“Estimular capacidade produtiva é diferente de estimular produção”, ressaltou Rigoni. Segundo ele, na política, fica-se muito preso à ideia de conceder incentivos fiscais para setores, que ele concorda que funcionam, mas de forma limitada. “Se você não desenvolver a capacidade produtiva do local, inspirada na vocação local, se um dia acaba o subsídio, acaba a indústria”.

Da esquerda para a direita: Felipe Rigoni, deputado federal pelo Espírito Santo; Juliana Bravo, diretora executiva da Stono Consultoria; e Tales Machado, sócio da Magban e presidente do Centrorochas

Da esquerda para a direita: Felipe Rigoni, deputado federal pelo Espírito Santo; Juliana Bravo, diretora executiva da Stono Consultoria; e Tales Machado, sócio da Magban e presidente do Centrorochas (Foto: Thiers Turini)

Juliana Bravo, diretora executiva da Stono Consultoria, aproveitou sua intervenção para destacar a importância do poder público se debruçar em formas de melhorar até mesmo o processo pré-mineração, agilizando e desburocratizando os procedimentos de licenciamento de uma pedreira, que por vezes levam anos até sua conclusão.

“Não é uma área que atrai muita política pública”, lamentou ela, “mas é uma área que merece também uma atenção muito grande”.

Por sua vez, Tales Machado, sócio da Magban e presidente do Centrorochas, disse que a indústria de rochas sempre se desenvolveu de forma muito independente do poder público.

“O setor de rochas, de café e todos que embarcam com contêineres do espírito santo não são prestigiados pelo poder estadual. Nunca foi”, lamenta Machado. Para ele, somente nos últimos anos esse diálogo com a classe política melhorou, o que o faz acreditar na importância de aprimorar a representatividade política da indústria de rochas para fazer avançar pautas relevantes.

Rogerio Salume, fundador da Wine, veio em sequência para discutir de que forma setores tradicionais (como o de vinho, no qual ele trabalha, e a indústria de rochas) podem ainda assim inovar.

Rogerio Salume, fundador da Wine

Rogerio Salume, fundador da Wine (Foto: Thiers Turini)

“Inovar é diferente de inventar”, disse Salume. “Inovar, na maioria esmagadora dos casos, é simplificar”. Desta forma, ele defende a agilidade e os testes como forma de se diferenciar.

“O que manda hoje é a velocidade, não o tamanho. A velocidade de se adaptar, pensar diferente, criar produtos diferentes, criar canais de venda e comunicação diferentes, de se posicionar como uma marca diferente”, reflete ele. E isso, segundo ele, pode se aplicar a qualquer setor, mesmo os mais tradicionais, que vêem seus processos como muito bem definidos.

Na parte final do evento Guilherme Barbosa, fundador do ECO55, abordou como a agenda ambiental vai impactar todo o mercado para que ele reduza as emissões em sua cadeia de produção, algo que agora é visto como diferencial competitivo, mas que futuramente será um fator de exclusão de empresas do processo de competição.

“As ações de mitigação das grandes empresas, a pressão popular, a pressão do mercado financeiro, as pressões que estão acontecendo nas empresas vão fazer com que todas elas se adaptem. E quando isso acontece, impacta em todas as atividades econômicas”, avalia ele.

Renan Machado, engenheiro ambiental e gerente da Nova Aurora, concorda. Ele concluiu o evento traçando um rico panorama de como a pauta ambiental influencia no acesso de um produto a determinados mercados.

Da esquerda para a direita: Renan Machado, engenheiro ambiental e gerente da Nova Aurora; Pedro Rio, CEO da Clarke; e Guilherme Barbosa, fundador do ECO55

Da esquerda para a direita: Renan Machado, engenheiro ambiental e gerente da Nova Aurora; Pedro Rio, CEO da Clarke; e Guilherme Barbosa, fundador do ECO55 (Foto: Thiers Turini)

Segundo ele, o cenário geopolítico atual tem levado a certo pragmatismo dos países, mas que em um futuro próximo as pautas sociais, ambientais e de governança nas empresas devem influenciar muito nas decisões comerciais.

“Mais para frente, acredito que a cobrança da agenda ESG como critério para a comercialização de produtos vai ficar cada vez mais evidente. Assim como usam as pautas ambientais em relação à Amazônia para pressionar o Brasil, com certeza, mais para a frente, irão utilizar a pauta da agenda ESG para pressionar e até em último caso impor sanções unilaterais em relação ao Brasil”, defende Machado.